Eu e o TAB



Meu terceiro livro
https://agbook.com.br/book/194904--Agorafobia

Meu segundo livro:
https://agbook.com.br/book/185539--Diario_de_uma_Bipolar_II


Meu primeiro livro:
https://agbook.com.br/book/41677--Diario_de_uma_Bipolar

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Meu face:
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Aprendi com o TAB,que minhas delicadezas não dispertam a suavidade alheia,mas insisto,é essencial: enternecer-se.



24/06/2010

Se eu pudesse escolher entre ter TAB ou não, certamente ficaria com a segunda opção. Mas o fato é que o TAB me trouxe algo de bom:sou mais sensível às coisas do mundo, sou mais humilde e ciente de que realmente deve haver uma forte razão para eu continuar aqui.
Distinguir os sintomas do TAB de nossa própria personalidade talvez seja a coisa mais difícil. É a tal da identidade que quase perdi quando estigmatizada num banco público e  aqueles que poderiam entender,apenas reforçam continuamente minhas limitações. E a vida continua,certo? Apesar de “lenta, lerda, dificuldade de raciocínio e de relacionamento” vide CEF e Magistrados, percebo na integralidade minha enfermidade e como é debilitante. Hoje em dia, me vejo como uma pessoa comum, de inteligência mediana, com capacidades físicas lentas, mas não fico imensamente lisonjeada quando me chamam de lesa. O grande problema é que sou sincera demais e não consigo me desvincular de velhos padrões de comportamento, por exemplo, quando uma pessoa muito querida, mas tem de ser muito querida mesmo, me solicita alguma coisa e que não consigo executar com perfeição. Eu me sinto muito triste por não haver feito da melhor maneira possível, mas, tudo passa, isso também vai passar e ficarei bem.Só por hoje!

Tenho este perfil,de ser mais sensível,de perceber as aflições pelo mundo a fora e me condôo com a situação alheia. Observo o mundo com outros olhos, mas a que preço,o preço de não darem valor ou credibilidade a minhas percepções.
Realmente não sei se lentidão, dificuldade de concentração e de relacionamento não são motivos justos de demissão numa empresa pública, somente sei que mais de 1% da população mundial deve perder emprego, família e até a vida se não forem tratados corretamente.Não me canso de falar que esse meu comportamento derivado de uma perturbação involuntária é porque sou doente mental,sou maníaca depressiva,não é uma questão escolhas erradas,mas há bipolares que vem para o bem, com sua sinceridade e caráter. Somos especiais sim, sei que é duro ser bipolar,temos muitas limitações,mas sei que somos altruístas e bondosos,só conseguimos fazer o mal a nós mesmos e isso é comum a muitos bipolares.

A principal questão de todo o meu processo jurídico,que muito me aflige,foi ter sido encaminhada para um psiquiatra pela psicóloga do banco e o banco não cumpriu e me demitiu,sendo que na admissão foi apta num exame psiquiátrico.Não tive o privilégio de saber que era bipolar ali,não recebi o tratamento adequado,perdi não somente um emprego,morri ali e depois foi morrendo aos poucos,várias vezes.Não perdi apenas um jeito de sorrir que tinha,mas perdi casamento e até guarda de um filho pequenininho e não o vejo,nem no dia das mães.
Se falar que hoje,solteira,com todas as minhas limitações, quero perder o pouco que ainda tenho, como meus sentidos femininos aguçados,nem por isso me permito ser promíscua e mesmo uma nova aparência que foi moldada por uma forte depressão,acabei ficando magra e com um rosto sensível e os remédios me trariam uma nova realidade, engordar e viver feliz.Em outro momento,eu escolheria isso,mas depois de perder tanto,acho que ainda devo continuar carregando este fardo,mesmo porque não tenho condições financeiras de bancar meu tratamento e não tenho força psicológica para enfrentar um tratamento público nem mesmo buscar algum auxílio previdenciário.
Ou seja, sem um sincero comprometimento com o tratamento,que me foi negado pelo banco público e não somente por ele,negado por uma Mariangela sem nenhuma estrutura psicológica ou financeira,negado por minha família,por ex-marido-amigos-companheiros de trabalho,uma rede de apoio, que somente é efetivada com a informação e a total falta de anonimato desta doença,sem isso a estabilidade fica muito comprometida. É muito difícil encarar o tratamento e todos os efeitos colaterais. Sei que muito posso ganhar com a estabilidade e tudo o que posso perder (inclusive a vida) sem ela. É a busca constante do ser humano pela estabilidade, pelos momentos de felicidade, não aquela felicidade da fase maníaca,pintada em filminhos açucaradas,ou num quadro de Van Gogh,ou numa música sertaneja, mas a felicidade em um pequeno gesto, a felicidade de um abraço apertado,a felicidade ao comer um chocolate,a felicidade de sentir o melhor cheiro do mundo,o cheiro do seu filho,a felicidade de ter tantas e tantas lembranças que me tiraria um sorriso no rosto,a felicidade de um único dia estável em que fui genuinamente a Mariangela que conheci antes do TAB.
Hoje aprendi o que é minha doença e quando parar,quando responder apenas,não me lembro, mas não tenho culpa disso e tentar viver mesmo com minhas limitações e sem o apoio daqueles seres que sabem códigos,leis e artigos,mas não sabem nada e em vez de falar que o banco não é responsável pela minha doença,falam que o banco não é responsável pelos meus sentimentos.Ou seja,novo eufemismo para a doença mental maníaco-depressiva,mas no processo jurídico, de bipolar,ou depressiva ansiosa, passou a ser apenas “sentimentos”.



PS:Depois de muito relutar e acumular laudos psiquiátricos,resolvi marcar uma perícia médica no INSS.
Dia 20 de julho/2010 as 8:30 hs.Tenho medo,passeando pelos blogs,já li alguns relatos de bipolares sobre esta perícia.Sinceramente tenho medo,não quero passar novamente por tudo que já passei.

Um grande e forte abraço a todos.